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Então, o que deve ser feito?

América do Sul precisa urgentemente de um desfibrilador para que o “coração” do setor automobilístico volte a bater


Estamos em uma recessão ou é uma depressão? Essa foi a pergunta que especialistas fizeram para uma plateia cheia de empresários internacionais e nacionais que se depararam com um Brasil contraído em mais de 5% no primeiro trimestre deste ano. Durante o Automotive Logistics South America, que aconteceu na última quarta-feira, (06), empresários e especialistas trouxeram um insight com tendências atuais e futuras que moldam a indústria automotiva sul-americana, e afirmaram que “a América do Sul necessita desesperadamente do equivalente econômico de um desfibrilador para recuperar o coração”.

Não é novidade que em um contexto econômico deprimido, a indústria automotiva no Brasil foi duramente atingida nos últimos tempos, com vendas de veículos caindo em 27% no ano passado e produção de automóveis chegando a um percentual semelhante ao seu nível mais baixo em quase uma década.

Marcelo Cioffi, Diretor da PwC Autofacts no Brasil, trouxe estimativas ainda mais desanimadoras e, apesar de acreditar que o setor continuará crescendo até 2022, ele salientou que as vendas de automóveis na região continuam a estagnar, deixando a confiança do consumidor no fundo do poço por causa de conflitos políticos, corrupção e incertezas econômicas. “E enquanto há recentes relances de que o mercado pode estar voltando dos mortos, sua recuperação será lenta”.

Segundo ele, a contribuição regional da América do Sul para o crescimento automotivo global é de 4,1% em comparação com os 65,4% da região emergente da Ásia-Pacífico. “O volume de produção só deverá crescer 0,9% entre a cifra de 3,1 milhões do ano passado e os 4 milhões previstos para 2022”, salientou. O Brasil responde por 75% da produção automotiva total da América do Sul, mas, com as vendas ruins, a capacidade de produção instalada quase caiu para metade, de 86% em 2010, para 46% este ano. E segundo Cioffi, quando a capacidade instalada cai abaixo do ponto de equilíbrio de 70%, as empresas começam a sofrer.

No entanto, apesar do Brasil deslizar de sua posição como a quarta maior base de produção automotiva globalmente para o décimo primeiro, o especialista ressalta: “Agora é o momento de instalar novos pensamentos na cadeia de fornecimento e construir mais eficiências para aproveitar ao máximo a recuperação nos próximos cinco a dez anos”. Neuton Karassawa Diretor de Logística para América do Sul General Motors, concordou e completou. "Toda vez que alguém chora, alguém está vendendo lenços".

De fato, não é de se admirar que lágrimas estejam sendo derramadas, considerando a sombria produção automotiva e os números de vendas na América do Sul. Este ano foi definido pelos especialistas como o pior em termos de vendas e produção na última década, de fato, com as vendas internas brasileiras esperadas para apenas cerca de metade das realizadas em 2012, quando atingiram 3,8 milhões de unidades. Enquanto isso, embora a Argentina esteja mostrando sinais preliminares de recuperação, espera-se que seja lenta e intimamente ligada à capacidade do Brasil de comprar seus produtos.

Em suma, a produção do Brasil voltou aos tempos de uma década atrás e sua previsão de expansão de 5 milhões de unidades até 2020 agora parece apenas um sonho. O México usurpou e está no alvo para fazer pouco mais de 5 milhões de unidades até 2020, uma taxa de crescimento de 50% com base em sua produção no ano passado, como apontou os dados trazidos pelo Diretor da PwC Autofacts no Brasil.

Entretanto, de acordo com ele, atualmente é impossível fazer previsões precisas sobre o que a indústria no Brasil vai parecer depois de 2022. “Nesse ponto, o país ficará a 1m de sua previsão original, na melhor das hipóteses”, observou, salientando: “O país ainda está atormentado por sua infraestrutura subdesenvolvida, tanto no interior como em seus portos. O Brasil está em 83º lugar no Global Logistics Index”.

A solução? Para Cioffi, trabalhar com contratos bilaterais e exportações é o melhor caminho para o Brasil “que tem capacidade instalada excedente após os investimentos de seis anos atrás, tornando-o bem posicionado para crescer”. E lembrou: “A situação agora é realmente complicada e o governo tem que pensar nisso - as exportações podem ser uma maneira de sair do problema", finalizou.

Fonte: Kamila Donato